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Cachorro Urubu

Trabalho de estreia do Núcleo Tumulto! de Investigação Cênica, Cachorro Urubu é uma produção site specific realizada no Casarão da Vila Guilherme, na cidade de São Paulo entre os anos de 2015 e 2016.

Abordando a tríade temática “futebol, política e religião” atravessada pelo vetor da violência, apresenta narrativas entrecortadas e não lineares das ações de uma dupla de mercenários à serviço de uma organização anarquista. Friccionando ficção e realidades, o trabalho conduz o espectador ao lugar de cúmplice dos eventos que se desenrolam, fazendo uma ponte entre a guerra nos Balcãs e o fim da Iugoslávia com a realidade política e social do Brasil na década de 90 e início dos anos 2000. O envolvimento de torcidas organizadas de futebol com grupos paramilitares, as sucessivas crises econômicas, as vulnerabilidades sociais geradas, seja pela guerra, seja pela condução política ideológica dos países e a crescente demanda por justiceiros de todas as ordens são, também, vetores que surgem na composição da dramaturgia.     

Desde o princípio do processo de criação, o Núcleo esteve as voltas com a produção de outras materialidades para além da criação de um evento cênico, tais como procedimentos de deriva, caminhadas fotográficas, performances coletivas e jogos públicos como parte da pesquisa dos temas e formas abordados no trabalho.

O Núcleo Tumulto realizou ainda oficinas de iniciação teatral e de construção de máscaras e encontros onde compartilhou com o público seu processo criativo e as especificidades de trabalhos em locais não convencionados para fins teatrais. Estas ações ocorreram no próprio Casarão da Vila Guilherme e no Centro Cultural da Juventude e integram o Projeto Cachorro Urubu.   

PROAC Primeiras Obras  | 2014

Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo

Prêmio Fomento e Valorização de Iniciativas Locais | 2016

Ministério da Cultura | Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo | Centro Cultural da Juventude

O nascimento de um coletivo

 

O ano era 2013 e uma nova leva de artistas recém-formados nos cursos regulares da SP Escola de Teatro se movimentava para realizar trabalhos cênicos autorais a partir das experiências de criação coletiva ocorridas nos anos anteriores. É nesse contexto que o diretor Pablo Callazans dos Reis convida a dramaturga Camila Damasceno para uma conversa sobre ideias de possíveis projetos futuros. Os dois decidem então convidar artistas da cena que também haviam passado (ou estavam passando) pelas aulas na Escola de Teatro para a formação de um núcleo de criação em torno do início da escrita de um texto.  Assim, chegam para formar o elenco os atores Bruno Carboni, Cristiano Alfer, Gustavo Braunstein e Rodrigo Mazzoni, além do sonoplasta David Sousa e do iluminador Flávio Morbach Portella. No ano seguinte, Daniele Aoki assume a produção executiva do trabalho.  

A demanda por locais de ensaio leva as experimentações cênicas para espaços públicos e não edificados para fins teatrais, tais como hall, corredores e banheiros das instalações da SPET além de praças, ruas, estações de metrô e túneis da cidade de São Paulo.  Ainda em 2013, é realizada uma abertura de processo, no bairro do Brás, onde já se configura uma sequência de ações que delineiam um percurso no qual atores e público experimentam uma relação de proximidade e de possibilidade de múltiplos pontos de vista para uma mesma cena. Os embriões da pesquisa de linguagem do grupo nascem já desse início de processo.

No ano seguinte, o Núcleo Tumulto é contemplado pelo edital ProAC de Primeiras Obras Teatrais e recebe financiamento público para realização da primeira temporada de Cachorro Urubu. Na ocasião, o grupo realizava seus encontros na ocupação Casa Amarela, na região central da cidade, mas já buscava parceria com outros locais onde fosse possível manter a escolha de pesquisa e criação site specific e da realização de um percurso com o público, o que não se mostrava possível ali, devido ao grande número de trabalhos de artistas de diversas linguagens que coabitavam a casa simultaneamente. Foi realizando essa busca por novas parcerias que o grupo encontrou a ocupação recém realizada do Casarão da Vila Guilherme (à época, ainda chamado de “Casa Azul”).

O Casarão da zona norte se torna o local onde Cachorro Urubu ganha forma e se inicia o processo efetivo de montagem. A experiência de participação na gestão coletiva da ocupação e nas decisões dos desdobramentos que o tornaram oficialmente Casa de Cultura da Vila Guilherme, sob gestão da Prefeitura Municipal de São Paulo, é um marco importante na história de ação cultural e política do grupo. É na Vila Guilherme que o Tumulto se torna de fato um núcleo de investigação cênica continuada, participando de ações coordenadas pela comunidade e formando um público local, predominantemente jovem e distante da realidade dos estudos formais de artes cênicas que configura boa parte do público de teatro da região central da cidade.  

Após a primeira temporada, Cachorro Urubu foi ainda contemplado pelo Prêmio Fomento e Valorização de Iniciativas Locais realizado pelo Ministério da Cultura em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e com o Centro Cultural da Juventude, em 2016. Somadas a essas duas temporadas, o grupo ainda mobilizou campanha de financiamento coletivo para permanecer em cartaz. A especificidade do trajeto pelos cômodos e corredores do Casarão delimitava o público a cerca de trinta pessoas por sessão. Ainda assim, as três temporadas geraram trinta apresentações e atingiram um público de mais de 900 pessoas.

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